Eras pequena mas já tinhas sonhos grandes.
Médica, advogada, professora, astronauta, importava tanto e não importava nada, o que querias era uma profissão que provocasse impacto, que sentisses que ia mudar o mundo, querias ser precisa, ser útil, ser importante.
Olhavas para os crescidos e querias ser como eles, independentes, autónomos, com um poder imenso para dar ordens e a não terem de pedir nada a ninguém, admirava-te como eles podiam comer bolachas antes do jantar sem que ninguém ralhasse ou se importasse.
Querias ser assim.
Querias crescer rápido. Ensinaram-te que quando mais rápida fosses e quanto mais depressa conseguisses vestir-te de manhã e fazer todas as outras coisas, melhor serias.
Hoje, tens um ritmo que não é teu, andas em esforço, em stress, sobrecarregaste-te de coisas, a maioria delas nem te dizem nada, mas disseram-te que sim, que tens de conseguir fazer muita coisa e que tens de o fazer minimamente bem.
Mesmo que não gostes.
E tu não gostas, tens saudades, saudades de seres aquela criança que queria mudar o mundo, que acreditava que o mundo precisava e queria ser mudado.
Hoje, só queres aguentar até ao fim do mês, até ao fim da semana, até ao fim do dia.
Ainda te lembras como era fazer coisas pela primeira vez? A sensação de conquista, de liberdade, de valor, a vida, a Felicidade.
Quantas vezes tens vontade de te sentar ao lado da criança que foste e dizer-lhe ao ouvido “não tenhas pressa”.
Não tenhas.
Não tenhas pressa em relação ao teu filho ou à tua filha.
Não tenhas, deixa a ser criança ser criança, deixa a criança “ser infantil”.
Tem pressa em relação a ti, não deixes a tua mente e os teus sonhos envelhecerem rápido.
Encontra o teu ritmo. Respeita o ritmo dele.
E dá à mão à criança que tens dentro de ti, ela ainda acredita em tudo e ela ainda acredita em ti.
Cristina Nogueira da Fonseca, que um dia quis mesmo ser astronauta.